As crianças caem muito. Inclusive, atendo muitas crianças no meu consultório que são trazidas pelos pais para avaliar a “causa de tantas quedas”. Em alguns casos, há alguma doença subjacente; mas felizmente, na maioria, não. Independente da causa de tantas quedas, aqui comentarei sobre a consequência disso: as fraturas em crianças e adolescentes.
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Toggle“Vantagens” e desvantagens de fraturas nas crianças
Os ossos das crianças são mais elásticos do que os dos adultos. Por isso, a chance de uma criança sofrer uma fratura é menor. Outra grande diferença com relação aos adultos é que os ossos das crianças e adolescentes ainda estão em crescimento.
O lado ruim da história é que se a criança sofrer alguma fratura, existe o perigo de afetar a capacidade daquele osso crescer normalmente, principalmente se ocorrer nas articulações (joelho, cotovelo, tornozelo, punho, etc.).
Uma vez afetada a capacidade de crescimento, o osso pode crescer torto (i.e., deformado), ou crescer menos (em alguns casos, pode crescer mais) do que o outro lado e causar discrepância no tamanho dos membros. O lado bom da história é que as crianças possuem melhor potencial de cicatrização, pois suas células têm maior facilidade de se multiplicar.
Por conta disso, o tempo de cicatrização e o risco da fratura não cicatrizar são menores nas crianças. Quanto mais nova a criança, maior o potencial de crescimento e cicatrização. Por outro lado, quanto mais próximo da fase adulta (chamamos isso de maturidade esquelética), menor o potencial de crescimento e cicatrização.
Meu filho cai muito, o que fazer? Apesar da maioria das quedas ocorrer pela maior exposição da criança a atividades que predispõem a quedas ou pela imaturidade de seu sistema locomotor, existem alterações anatômicas e neurológicas que podem favorecer e precipitar quedas frequentes, além do esperado para idade. Alguns exemplos:
- Alterações anatômicas dos pés, joelhos e quadris;
- Distrofias musculares;
- Doenças neurológicas;
- Distúrbios do labirinto.
Por isso, quando os pais, ou responsáveis, identificarem episódios exagerados de quedas, alterações na forma de correr ou andar e múltiplas fraturas, recomendo buscar avaliação médica para determinar se existe alguma moléstia prejudicando o desenvolvimento locomotor da criança.
Tratamento de fraturas na criança
As opções de tratamento de fraturas em crianças são praticamente as mesmas dos adultos (ex.: imobilizações, parafusos, placas, hastes, pinos, fixadores externos, etc.). O que diferencia é a indicação de cada tipo de tratamento.
Enquanto, por exemplo, numa criança uma fratura dentro da articulação do joelho é tratada com imobilização, pinos ou parafusos; no adulto, fraturas dentro da articulação do joelho normalmente são tratadas com placas.
Além disso, como comentei anteriormente, quanto menor a criança, maior o potencial de cura. Em razão disso, o tratamento varia conforme o tamanho da criança, i.e., se estou tratando um recém-nascido, bebê, pré-escolar, escolar, pré-adolescente ou adolescente.
Por exemplo, fraturas do fêmur em crianças de 1 ano (bebê) costumam ser tratadas com um gesso, ao passo que geralmente são tratadas com hastes flexíveis em crianças de 8 anos (escolar), podendo até ser tratadas com hastes rígidas em crianças (adolescentes) de 16 anos.
Outra particularidade do tratamento de fraturas na faixa etária pediátrica é que geralmente utilizamos implantes (materiais utilizados na cirurgia para ajudar o osso a cicatrizar) menos robustos (i.e., mais parafusos ou pinos ao invés de placas) para não atrapalhar no crescimento e para serem removidos com maior facilidade. Como as crianças crescem, preferimos utilizar, sempre que factível, implantes facilmente removíveis.