As crianças e adolescentes praticam esportes e, por isso, também estão sujeitas à lesão do ligamento cruzado anterior (LCA). Entretanto, porque seus ossos ainda estão em desenvolvimento, o tratamento varia conforme o grau maturidade esquelética, ou seja, o grau de desenvolvimento do corpo.
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ToggleComo ocorre a lesão do ligamento cruzado anterior nas crianças e adolescentes
Existem duas formas principais de lesão do LCA na faixa etária pediátrica. A primeira é semelhante ao que ocorre com os adultos; a segunda é característica das crianças e adolescentes. Primeira forma: durante atividades esportivas (ex.: futebol, handball, basquetebol, artes marciais, etc.) e recreacionais (ex.: pega-pega, queimada, pique-esconde, etc.).
Nessas situações, durante um movimento de giro com desaceleração (ex.: dribles), a força sobre o joelho pode superar a resistência do ligamento, provocando lesão. Segunda forma: também em atividades esportivas e recreacionais, mas também por queda de bicicleta ou acidentes de trânsito.
Nessas situações, durante movimentos de giro, ou com joelho muito esticado (em hiperextensão), ou muito dobrado (em hiperflexão), a força sobre o joelho provoca uma fratura bem no local onde o ligamento está. Esse local se chama espinha tibial, ou eminência tibial. Como a fratura ocorre onde o LCA está inserido, o ligamento deixa de funcionar. Então, é como se o ligamento estivesse rompido.
Como é o tratamento atual para crianças e adolescentes com lesão do LCA?
A primeira coisa que fazemos é saber qual o grau de maturidade do corpo dela, que chamamos de maturidade esquelética. Assim, poderemos saber o quanto ela ainda pode se desenvolver e, com isso, determinar o tipo de procedimento cirúrgico. Nós dividimos as crianças em 3 grupos principais:
- As que têm muito para crescer e se desenvolver;
- Grupo intermediário;
- As que faltam muito pouco para serem consideradas adultas do ponto de vista do desenvolvimento e crescimento dos ossos e articulações (sistema locomotor).
A técnica usada para tratar o primeiro grupo visa proteger as regiões de crescimento dos ossos. O último grupo recebe tratamento similar aos adultos, incluindo técnicas cirúrgicas semelhantes. Já o grupo intermediário é tratado com métodos que se situam entre os aplicados ao primeiro e ao último grupo.
Se o paciente tiver lesão do menisco ou de cartilagem, tratamos essas lesões durante a cirurgia para reconstruir o LCA. A criança e o adolescente, além de passarem por cirurgia, deverão passar por uma reabilitação com fisioterapia, que dura cerca de 9 meses, antes de retornarem a todas as atividades, incluindo competições esportivas.
Como funciona a cirurgia para reconstruir o ligamento cruzado anterior nas crianças e adolescentes?
Acompanhada dos pais ou responsável, a criança interna-se em jejum de 8 horas e encaminha-se para o centro cirúrgico. Para a faixa etária pediátrica, realizamos anestesia geral combinada, quando possível, com anestesia regional na coluna (parecido com os adultos).
Durante o procedimento cirúrgico, utilizamos um torniquete, que minimizará o sangramento, facilitando a visualização da anatomia do joelho. Inicialmente, retiro o enxerto que será utilizado para criar o novo ligamento cruzado anterior. O enxerto é um tendão retirado da própria criança, normalmente, do mesmo joelho que está sendo operado.
Normalmente, utilizamos os tendões semitendíneo e grácil. Nem sempre podemos utilizar outros enxertos para não afetar o crescimento da criança. Na sequência, realizo a artroscopia, que é a visualização por dentro do joelho. Para tanto, utilizo uma câmera milimétrica que, dependendo do tamanho da criança, pode ser ainda menor do que a utilizada em adultos.
Enquanto utilizamos ferramentas de 3.5-6mm em adultos, em crianças utilizamos ferramentas de 1.5-3.5mm. Caso constatemos lesões nos meniscos, podemos realizar a sutura do menisco ou a meniscectomia, conforme as características da lesão.
Após essa etapa, retornamos à reconstrução do LCA. Realizo, então, uma perfuração no fêmur e uma na tíbia, bem no local onde ficava o LCA rompido. Essas perfurações funcionarão como túneis, através dos quais passaremos o enxerto que funcionará como o novo ligamento.
Feito isso, passo o enxerto por dentro dos túneis e o prendemos com implantes (ex.: parafusos, botões suspensores ou grampos metálicos).
Por fim, costuro as incisões da pele (i.e., cortes da cirurgia), faço o curativo e finalizo o procedimento. A criança é encaminhada para a sala de recuperação, de onde segue para o quarto no hospital.