O desgaste do joelho, denominado artrose (ou osteoartrite, ou gonartrose), ocorre conforme envelhecemos. Algumas situações podem acelerar o desgaste em virtude da destruição que ocasionam à articulação do joelho, como:
- Deformidades congênitas: o paciente nasce com alterações na anatomia do joelho. Nesses casos, o joelho é torto (para fora ou para dentro), e a deformidade pode se agravar no decorrer dos anos, destruindo a articulação;
- Lesões multiligamentares são lesões em que mais de 1 ligamento do joelho é rompido. Por conta disso, o joelho fica “solto”, resultando em movimentos anormais que destroem a articulação;
- Fraturas na articulação: pelo fato de ocorrerem nos ossos do joelho (fêmur e tíbia) são fraturas graves, pois possuem alto potencial para destruir e deformar o joelho;
- Hemofilia: doença que, quando não está bem controlada, ocasiona sangramento dentro do joelho, que leva à inflamação exagerada da articulação, o que chamamos de sinovite. A sinovite destrói a articulação, resultando em artrose mesmo em pacientes muito jovens;
- Artrite reumatoide, lúpus e outras doenças autoimunes: as células de defesa desses pacientes atacam as próprias articulações desses pacientes, destruindo-as. Com isso, os pacientes desenvolvem artrose muito cedo na vida. Nesses casos, a artrose pode ser muito grave a ponto de incapacitá-los para atividades “simples” como andar.
As situações listadas acima podem produzir artrose grave no joelho, caracterizada por deformidade exuberante, defeito grande nos ossos do joelho (“buracos”) e instabilidade significativa (joelho fica “bambo”). Quando estamos diante de uma situação dessas, o tratamento não cirúrgico (ex.: viscossuplementação, fisioterapia, medicamentos) serve como paliativo, pois a cirurgia de artroplastia do joelho (cirurgia para colocar prótese) é inevitável, podendo ser, no máximo, postergada.
Como é a cirurgia de artroplastia nos casos de artrose grave no joelho?
O paciente é internado em jejum de 8 horas e encaminhado ao centro cirúrgico, de onde segue para a sala de cirurgia. Nesse local, o médico anestesiologista aplica medicamentos para promover sedação e anestesiar o joelho. A sedação ajudará o paciente a ficar calmo e relaxado, e permite que ele durma durante a cirurgia. A anestesia do joelho é realizada por meio de raquianestesia, que consiste na administração de medicamento pela coluna lombar. Após a anestesia, posicionamos o paciente deitado na mesa de cirurgia para darmos início ao procedimento. Nesse momento, envolvemos a coxa do paciente com um torniquete, que minimiza o sangramento durante a cirurgia e facilita a visualização da anatomia do joelho. Em seguida, faço a incisão cirúrgica (corte na pele) de aproximadamente 15cm para visualizar o joelho por dentro. Após esse passo, utilizo ferramentas para retirar a cartilagem doente e corrigir as deformidades do joelho. Além disso, utilizo serras cirúrgicas para remodelar a geometria dos ossos do joelho e permitir que a prótese se encaixe perfeitamente, semelhante às peças de um Lego®. Nesse momento, quando necessário, utilizamos ossos de doadores falecidos (chamado de transplante homólogo) para preencher “buracos” no joelho e permitir melhor encaixe da prótese. Na sequência, introduzimos a prótese especial, que é mais robusta e reforçada. Para melhorar a fixação da prótese ao osso, impregnamos a peça com cimento ósseo composto de polimetilmetacrilato, que funciona com um princípio semelhante ao cimento utilizado na construção civil. Colocada a prótese, costuramos a pele, realizamos o curativo e deixamos um dreno, que é um dispositivo utilizado para evitar o acúmulo de sangue dentro do joelho. O dreno, geralmente, é removido após 1-2 dias. Os pontos da cirurgia, por sua vez, são retirados após 3-4 semanas.